terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Mais Açúcar Na Vida

É noite e sentado na beira de sua cama ele vê o quão ruim foi o dia. Acordou atrasado pro trabalho, o carro velho quase não pegou, o trânsito tava uma merda... Próximo à hora do almoço foi chamado à sala do chefe...
-- Você queria falar comigo, senhor?
-- Sim... e infelizmente vou ter que dispensá-lo do trabalho.
-- Nossa... mas o que houve?
-- Seus gráficos de venda estão caindo esponencialmente e não podemos nos dar ao luxo de mantê-lo num momento tão crítico para a empresa.
Ele sabia muito bem, não tava vendendo porra nenhuma e não tinha mais empolgação pra nada. Engraçado é ver que a estagiária nova, por mais que mal soubesse soletrar o nome da empresa, era mantida. Mas pra dar uma rapidinha com o chefe em cima da mesa do escritório ela servia.
Saiu correndo daquele lugar que só lhe dava asco. Tudo estava desmoronando, mas uma parte de sua vida ainda valia a pena. Ele tinha a ela. Chegou ao apartamento no começo da tarde, ia ficar por lá, esperando por ela. Estava aberto, estranho. As vozes, as roupas pelo chão, os gemidos...
Naquele momento ele entedeu porque o coração era associado a sentimentos. Doia muito, parecia que um buraco tinha sido aberto em seu peito. A namorada, nua, olhava assustada para ele, juntamente ao melhor amigo, companheiro de muitas conversas, cervejas e jogos. As pernas entrelaçadas onde antes as dele já estiveram. Foi direto para sua própria casa.
O dia passou enquanto ele permanecia ali, sentado na beira da cama, olhando pela janela. O que ele havia feito de tão errado pra ver sua vida tão desgraçada em um só maldito dia? A cabeça doia, as têmporas latejavam, ele precisava de um bom remédio. Um remédio que resolvesse tudo de uma vez.
A arma. Havia sido do pai dele em uma época em que um homem tinha o direito de se defender livremente. Ele precisava de defesa contra a vida. Pegou-a no fundo falso da gaveta do criado-mudo. Puxou o gatilho.
 Onde estavam as malditas balas? No fundo falso também, idiota. Carregou a arma. Bastava uma bala. A campanhia tocou. Que merda. Era a vizinha.
-- Oi, desculpe incomodar.
-- Ahh, que é isso... eu não tava fazendo nada de mais...
-- Pode me emprestar um pouco de açúcar?

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